domingo, 15 de fevereiro de 2009

Renganeschi, o nosso primeiro “deus da raça”

Quando lembramos de grandes zagueiros que já vestiram o manto sagrado Tricolor, a primeira coisa que nos vem em mente são os nossos “deuses da raça”.

Talvez, o primeiro nome que venha a surgir em nossas memórias seja o do uruguaio Diego Lugano, que em pouco mais de três temporadas como zagueiro do Tricolor, ganhou “simplesmente” um título Paulista, um Brasileiro, uma Libertadores da América e um Mundial Interclubes.
“dios” Lugano, como até hoje é lembrado por nós, era um zagueiro de técnica limitada, mas de uma valentia incomum. Era o coração da equipe Tri campeã do mundo em 2005.

Outro uruguaio que também ostentou a alcunha de “Deus da raça” foi Alfonso Dario Pereyra Bueno, ou simplesmente “dom Dario”.
Contratado em 1977 pra jogar como volante, Dario Pereyra demorou quase um ano para se adaptar, até que o técnico Rubens Minelli resolveu desloca - lo para a posição de quarto – zagueiro, onde se transformou num dos maiores jogadores que já desfilaram pelo Morumbi.
Nos 11 anos em que envergou a camisa Tricolor (de 1977 a 1988) “dom Dario” disputou 402 jogos, marcou 39 gols e conquistou 4 campeonatos Paulistas e 2 títulos nacionais.
Dono da raça característica dos jogadores uruguaios, era senhor absoluto da área. E com a bola dominada, partia para o ataque em arrancadas de tirar a respiração dos torcedores e o sossego dos adversários.
Esses dois, porém não foram os únicos zagueiros estrangeiros a fazer história no SÃO PAULO FUTEBOL CLUBE.

Voltemos ao longínquo ano de 1944, quando então, apresentava – se ao escréte são paulino o argentino Armando Federico Renganeschi.
Nascido em Buenos Aires, o jogador tinha como principais características a força, a segurança e a raça, mas nem por isso deixava de ser um zagueiro clássico, que dominava a bola como poucos.
Porém, Renganeschi não se consagrou ídolo da torcida apenas por seus atributos, mas também por um jogo em especial, a decisão do campeonato Paulista de 1946. Neste ano, São Paulo e Corinthians disputavam o título rodada a rodada.
Na última rodada, com 3 pontos perdidos, o SPFC enfrentava o Palmeiras (que não tinha mais chances de ser campeão) . O Corinthians, com 4 pontos perdidos, dependia de uma derrota Tricolor ou, pelo menos de um empate, para ir para uma partida extra.
Aí brilha a estrela de Renganeschi. O zagueiro se machuca aos 6 minutos da etapa inicial e, como as substituições não eram permitidas, o argentino é deslocado para a ponta esquerda, somente para “fazer número”.
Aos 38 minutos do segundo tempo, o jogo segue num dramático 0 X 0, até que Bauer faz o cruzamento da direita; a bola alta, tocada pelo destino, toma o rumo do gol; o goleiro Obertan, num salto espetacular para trás, ainda consegue prensar a bola na trave; Obertan cai e a bola fica quicando junto à linha de gol; Renganeschi, manquitolando, se atira contra a bola e manda para as redes. 1 X 0. São Paulo Campeão. Esse seria o único gol de Renganeschi com a camisa do Tricolor.
Em 1948, com a volta do técnico Vicente Feola, chega ao clube outro zagueiro que iria ficar na história: Mauro Ramos de Oliveira.
Depois do primeiro treino do novo zagueiro, Renganeschi,o titular, chega para o treinador e diz : “Acho que devo ir arrumando as minhas malas”. O zagueiro deixava o clube em que foi campeão Paulista em 45, 46 e 48, voltando em 1958 para ser técnico da equipe principal. Faleceu em 12 de outubro de 1983.
Penso eu que, a nossa admiração por zagueiros que, acima de tudo, jogam com a alma, tenha se iniciado graças a esse argentino.

Obrigado Renganeschi, obrigado “deus da raça”.

Um comentário:

  1. Típico lance do destino, para entrar nas listas dos fatos marcantes do futebol, seja de que clube for (mas como é o SPFC, a mídia quase não menciona nada mesmo - já um certo gol em 77 é endeusado). Enfim...

    Curiosamente o Renga depois treinou o proprio palmeiras também hehe.

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